Mulher que filmou o próprio estupro revela medo após absolvição do ex: ‘temo pela minha vida’


Juliana Rizzo, de 34 anos, disse que considerou a absolvição, segundo o juiz por falta de provas, um absurdo. Caso aconteceu em Praia Grande, no litoral de São Paulo, e ganhou repercussão nacional. Mulher que filmou próprio estupro, em Praia Grande (SP), fica desacreditada na Justiça e tranca curso de direito após absolvição do ex
Arquivo Pessoal e Reprodução
A mulher que filmou e divulgou imagens sendo estuprada pelo ex-marido em Praia Grande, no litoral de São Paulo, afirma que deixou de acreditar na Justiça após Ricardo Penna Guerreiro, de 56 anos, ter sido absolvido pelo crime. A decisão ainda cabe recurso. Ao g1, nesta quinta-feira (10), Juliana Rizzo, de 34 anos, disse que tem medo que o ex saia da prisão e cumpra as ameaças que fez contra ela.
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O ex-marido foi preso em janeiro deste ano por ser suspeito de espancar e estuprar Juliana enquanto ela estava desacordada, por conta dos efeitos de remédios antidepressivos. Antes de ter sido detido, ele estava em liberdade em razão de um habeas corpus, que foi revogado, após nova prisão. Contra ele, há uma condenação a 37 anos de prisão por tentativa de homicídio (entenda mais abaixo).
Guerreiro foi absolvido pela Justiça de Praia Grande, no caso contra a ex-mulher, por falta de provas. Ela chegou a divulgar imagens do suposto crime, em janeiro deste ano. A decisão do juiz Vinicius de Toledo Piza Peluso saiu no dia 27 de julho. O processo corre em segredo de Justiça.
A defesa de Ricardo trabalhou com um argumento baseado principalmente no depoimento prestado pela médica psiquiatra do casal à Justiça. A profissional informou que os medicamentos prescritos para Juliana não alteram o nível de consciência.
“Algo absurdo. Deixei de acreditar na Justiça”, disse ela, sobre o motivo da absolvição.
Juliana encaminhou ao g1 prints de conversas em que mencionava ter ficado sonolenta após tomar rivotril
Arquivo Pessoal
Ela ressaltou que entregou à Justiça vários vídeos com ameaças de morte, além da gravação do próprio estupro. Ela acredita que Ricardo esteja contando os dias para sair da prisão e cumprir as ameaças que fez contra ela.
“Eu temo pela minha vida, temo pela vida dos meus filhos porque sei do que ele é capaz (…). Nossa Justiça é falha, as mulheres são dadas de bandeja para esses agressores porque eles passam impunes”.
Para Juliana, se a Justiça ligasse todos os crimes já praticados por Ricardo, ele não sairia da prisão nunca mais. “O que está falhando na Justiça são as comunicações de crime que não estão sendo ligadas, como ameaças de morte, agressão, condenação da lei Maria da Penha da ex-mulher e descumprimento de habeas corpus”, comentou ela.
Fim de projeto
Após divulgar o que estava passando com o ex-marido, Juliana se sentiu encorajada e criou um projeto para orientar mulheres a se libertarem de relacionamentos abusivos. No entanto, agora, ela diz que não vê mais sentido nos conselhos que dava. A denúncia, segundo ela, só gera ódio no agressor, deixando a vítima mais vulnerável.
“Achei que a Justiça estava sendo feita, isso me encorajou, me fez querer ajudar outras mulheres, mas depois dessa decisão não fiz mais postagens e não reforcei a tecla para denunciar porque a mulher vai lá, denuncia e nada acontece”, disse. Juliana comentou também que desistiu da faculdade de Direito, que estava cursando, por desacreditar na justiça brasileira.
Defesa
Em nota, o advogado de Juliana, Fabrício Posocco, afirmou que recebeu a decisão de 1° grau com surpresa e ressaltou que, na qualidade de assistentes de acusação, ingressará com o recurso cabível no momento oportuno.
Posocco reforçou que segue confiando no trabalho do Ministério Público e na Justiça. “Acreditamos que o Tribunal de Justiça de São Paulo poderá analisar as provas existentes no processo e dar um desfecho diferente a esse caso tão complicado”.
Absolvição
A decisão do juiz Vinicius de Toledo Piza Peluso, da 1ª Vara Criminal de Praia Grande, sobre a absolvição saiu no dia 27 de julho. O processo corre em segredo de Justiça.
Conforme apurado pela reportagem, a defesa de Ricardo trabalhou com um argumento baseado principalmente no depoimento prestado pela médica psiquiatra do casal à Justiça. A profissional informou que os medicamentos prescritos para Juliana não alteram o nível de consciência.
A defesa do ex-marido apontou que não existiriam provas de que a vítima não poderia oferecer resistência ou que a relação sexual foi forçada. Outro ponto a favor da absolvição foi o horário em que as imagens foram gravadas. A vítima alegava que tomava os remédios à noite, mas as imagens foram registradas no período da manhã.
Mulher faz post para provar que era estuprada pelo marido
Divulgação / Redes Sociais
Preso
Apesar da absolvição por estupro de vulnerável, Ricardo Penna Guerreiro segue preso por outro crime. Ele foi condenado a mais de 37 anos por tentativa de homicídio contra seis pessoas em 2000 e estava em liberdade devido à um habeas corpus.
No entanto, ele teve a prisão preventiva decretada novamente. “Por conta do não cumprimento das medidas cautelares devido à prisão preventiva ilegal [por estupro]”, explicou o advogado dele, Eugênio Malavasi, que já está tomando os procedimentos legais para que o cliente seja solto.
De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), na ocasião, Ricardo tentou matar seis pessoas em uma choperia em Praia Grande. Ele teria se desentendido com um grupo composto por seis pessoas e atirado contra elas junto com outro homem armado. Dois se feriram na tentativa de homicídio.
Juliana acusa o ex-marido de tê-la estuprado dopada por remédios
Arquivo pessoal/Reprodução
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Entenda o caso
O empresário Ricardo Penna Guerreiro foi preso em dia 27 de janeiro por estupro de vulnerável cometido contra a ex-mulher, no bairro Canto do Forte, em Praia Grande (SP).
Policiais da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) do município cumpriram o mandado de prisão temporária expedido contra o suspeito, que teria estuprado a vítima enquanto ela estava dopada por conta de remédios antidepressivos e calmantes. A prisão posteriormente foi convertida em preventiva.
Ao g1, a mulher revelou também ter sido espancada pelo homem, que chegou a ameaçá-la de morte, além de ser agressivo com o filho do casal. “Ele [Ricardo] me colocou no fundo do poço. Abusou de mim de todas as formas, com requintes de crueldade”, desabafou à época.
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